sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Parte de mim.

O balanço da rede proporcionava-me uma angústia muito grande. Eu fumava um cigarro - um após o outro - e sentia prazer em tragá-lo profundamente. Entre uma tragada no cigarro e um gole de café, vinha-me na cabeça o que já vivemos. Nós dois fomos tanto, que sempre tinha gente à nossa volta para ver de perto o que alguém um dia chamou de amor. Aquele amor que inflava, crescia e fortalecia-se, como se tivesse sido adicionado fermento à nossa receita de "como viver bem". Hoje, aquele amor desmanchou, murchou, puiu como a roupa velha guardada no roupeiro e comida pelas traças. E, no fundo, a gente sabe bem, que faltou cultivo e cuidado. Fomos relapsos, deixando nosso sentimento no fundo da gaveta, cheirando a mofo, tomado por pó. Pensávamos que somente estando um ao lado do outro seria o suficiente. Engano nosso, não é? A casa está vazia agora. As luzes que teimávamos em deixar acesas, iluminando a casa toda, hoje até queimadas estão. A casa ilumina-se somente com as luzes da rua, que tornam o ambiente assustador, enchendo de sombras o que um dia chamamos de "lar doce lar". A casa está sem você. A noite e o dia, também.
Nem as brigas, que um dia pensei que seriam eternas, permaneceram no nosso cotidiano. Quando eu te enchi de razão, somente para não brigarmos mais, você me chamou de fraca. Perguntou-me até onde deixei - ou perdi - minha personalidade. Agora sei, que na realidade, o meu jeito tempestuoso, era o que fazia você se prender a mim. Nunca reparei que meu gênio forte te deixava com um sorriso orgulhoso no rosto. Ao final, percebi que eu perdi a essência de mim mesma. Perdi também a essência que existia em você. Perdemos nossos adubos. Perdemos nosso querer. Perdemo-nos.
Pegue o que tiver que pegar dentro da nossa casa. Pegue tudo mais o que quiser e parte de mim. Metade de mim quer te ver feliz, a outra te expulsa e morre. E só resta-me recordar as tantas brigas que me fizeram rir, enquanto seus olhos jorravam raiva com minha - quem sabe - imaturidade. Não era certo nem errado. Era o que devia ser. E nos dias e nas datas que nos acostumamos a comemorar, a gente não jurava mais nada, só bebia pra esquecer.
O que era lindo se foi. Não faz mais parte de mim. Nem de ti. Nem de nós. Agora, tudo o que já foi um dia, é normal e chato. Tédio. Então fica assim. Saia pela porta da frente, que eu saio pela porta dos fundos. O último apaga a luz. Na porta que não range mais, sentada na rede, ouvi o barulho mesmo assim. Não é você, não é ninguém. É o costume de sempre te esperar vir.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Amor e Razão ou Ele e Ela.

Não marcava nem meia-noite no relógio ainda e o cansaço e irritação já eram aparentes no rosto dela. Seu namorado passou a noite inteira com uma cara emburrada, agiu de forma estúpida e ela não sabia nem ao menos um motivo para aquelas atitudes. A conversa das pessoas já afetava sua paciência, a música no local não agradava e os pés estavam cansados do salto alto. Ele permanecia sentado na mesa ao lado, bebendo cerveja com os amigos e conversando - sempre mantendo o mau-humor, claro. Nas raras vezes que ele desviou o olhar para ela, não esforçou-se nem para esboçar um sorriso.
Ela levantou-se da cadeira e dirigiu-se até ele:"- Vamos embora, amor. Estou cansada.". A voz dela era calma, porém o tom imperativo fez-se entender perfeitamente. Ele olhou para ela, franzindo as sobrancelhas "- Já?", mas logo notou a insatisfação no olhar dela. As expressões do rosto dela naquele momento fizeram qualquer explicação ou resposta tornar-se desnecessária. Ele somente levantou-se da cadeira, despediu-se com um aceno dos amigos, bebeu o restante da cerveja que tinha no copo e caminhou em direção à porta.
Ela mal sentou no banco do carro e afivelou o cinto de segurança, e ele já desatou a falar. A voz dele saia trêmula. As mãos posicionadas no volante. Os olhos olhando para o painel. Ele tremia visivelmente e não desviava os olhos para ela. "-Sei que esse não é o melhor momento para falarmos disso e que também não é o melhor lugar, mas sinto que...", ele fez uma longa pausa, o que resultou no nervosismo dela "-Fala logo! Onde você está tentando chegar?". "-Eu acho que não te amo mais. Não é nada com você, é coisa minha. Sou eu.", ele completou de forma tão rápida, que ela só entendeu o "eu não te amo mais". A informação entrou de forma rápida e direta no cérebro dela, e o corpo dela ainda não tinha conseguido associar. Tão logo ela entendeu o que ele disse e as lágrimas brotaram em seus olhos, rolando pela face e borrando a maquiagem. Ela preferiu não fazer nenhum comentário, nem falar nada. Palavras se faziam desnecessárias. Ele sabia que deveria deixá-la em casa e não procurá-la mais.
Ele estacionou o carro em frente à casa dela. Ela desceu do carro e bateu a porta, com delicadeza - delicadeza a qual nunca lhe faltava. Ele ficou olhando ela subir as escadarias do edifício, mas em momento algum ela virou-se para olhá-lo. Aquela reação muda, calada, assustou-o. Ela não gritou, não questionou, não fez nenhuma pergunta habitual que uma mulher comum sempre faz: "Você está com outra?" ou "Você ama outra?". Jogou a cabeça para trás, encostando-a no banco do carro. Permaneceu ali, em frente ao edifício. O motor do carro ligado, o rádio ligado, o coração apertado. Lágrimas caíram. Aquela classe, aquele requinte que ela exalava por onde passava, permaneceram até quando ele a feriu.
Ela entrou no apartamento, largando a bolsa sobre o sofá e retirando os sapatos. Quando os pés tocaram, nus, o chão, ela esboçou um sorriso. A sensação de alívio apossou-se do seu corpo. Jogou-se no sofá. Ficou parada por alguns instantes sem mexer nenhum músculo. Aquilo a relaxava tanto. Sentiu o choro vindo. Ele vinha tímido, como se não quisesse se fazer real. Ela sentia-se covarde quando chorava. Ela não aceitava sofrer por amor. Não por que ela era fria, mas por que ela cria que o amor não trazia sofrimento e angústia. Se, naquele momento, ela sofria por ele, isso significava que já não era mais amor. Quem ama quer o outro feliz, independente com quem. Pelo menos foi isso que ela leu em diversos livros, e foi o que ela escutou em todas as idas ao terapeuta. Mas, pela primeira vez, ela sentia que amava alguém, e saber que havia o perdido, doía demais. As teorias não se faziam iguais na prática. Não desejava mal à ele, somente não desejava que ele parasse de amá-la.
Ele desligou o motor, fechou os vidros e desceu do carro. Caminhou até o porteiro eletrônico, no mínimo, umas quatro vezes, até conseguir apertar o número do apartamento dela. O barulho do interfone ressoou pelo apartamento, entrando no ouvido dela de forma ensurdecedora. Ela foi até o interfone e retirou o fone do gancho: "Sim?". O "sim" saiu embargado por lágrimas. O coração acelerou. No fundo, ela sabia quem batia à porta. As pernas dele tremeram. "-Sou eu, posso subir?". A pergunta era tímida. O dedo dela acionou o botão, confirmando que sim, ele podia subir.
O estômago dele estava embrulhado, e o trajeto dentro do elevador, parecia eterno. Quando as portas do elevador abriram-se, tudo o que ele viu foi ela, parada na porta do apartamento, descalça, maquiagem borrada e um leve sorriso no rosto. Abraçou-a com força. Tanta força que receou que estivesse a machucando. "-Pensei que você quem não me amasse mais, senti você tão distante de mim no casamento e ontem não quis me ver...", as palavras saiam embaralhadas e com pressa da boca dele, como se procurassem explicar o mais rápido possível. E era exatamente o que ele queria, deixar claro para ela que ele a amava. Nunca, nada entre os dois, doeu mais nele do que o silêncio dela, o sofrimento calado, a raiva contida. "-Eu não queria te ver mesmo, acho que temos direito de não querer certas coisas às vezes, mas isso não implica no fato de eu não amar mais você. Eu amo e como amo. Amo tanto que me sinto presa, mesmo estando livre.". A calma na voz dela, resplandecia uma maturidade tão grande que ele invejava. Ao mesmo tempo, ela olhava para aquele homem crescido - e bem crescido - e enchia-se de felicidade ao saber que ao lado dela, ele mais parecia um menino assustado, clamando por amor. Pelo amor dela. E seria sempre assim. Ele se assustaria com as atitudes dela. Ela sofreria calada diante dos surtos infantis dele. Ele abrigaria-se nos braços dela e ela manteria o equilíbrio, a serenidade, a maturidade da relação. E eles se amariam, por que no fundo, era o que sabiam fazer de melhor quando estavam na companhia um do outro.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Eu + Você = Nosso Paradeiro.

Entrar naquele apartamento era algo muito confortante para mim. Era como se aquele lugar me protegesse, me acolhesse. E por mais que pareça estranho, permanece tudo no seu devido lugar - ou no lugar que eu sempre te disse que deveria estar. Dialogar com você não é fácil. Eu fico cansada, angustiada. E essa onda pesada me consome sempre que sei que vamos nos ver. Tentar te explicar o óbvio, sinceramente, me irrita. Teu jeito mimado me irrita. Tuas manias me irritam. Teu humor inconstante me irrita. Mas sinto, cada dia que passa, que a falta que você me faz é enorme. Essa saudade quase já não cabe em mim.
Passo dias sem conversar com você, sem saber de você, e isso é o suficiente para eu me questionar do porquê que nós "fomos" e não "somos". E me dói saber que bastam 5 minutos ao seu lado para que essas dúvidas logo desapareçam. Por que ensinamos um pro outro, justamente, nossos opostos. Antes, eu planejava e você vivia. Isso me amedrontava. Pensava nos motivos que te levavam a não querer planejar o futuro comigo. Hoje, eu vivo e você planeja. Por que tem que ser assim? Por que não podemos encontrar um meio termo para conseguirmos conviver bem e, principalmente, juntos?
Pensar no futuro embaça a nossa felicidade. Nem sempre conseguimos fazer o que planejamos, e as cobranças sempre surgem a partir daí. Era tão melhor quando vivíamos de forma inconseqüente. Nós não nos preocupávamos no horário que deveríamos dormir para conseguir acordar e trabalhar no outro dia. Nós não nos privávamos de viajar sem rumo e sem destino. Nós não nos obrigávamos a ter um paradeiro. Nosso paradeiro se limitava em ser sempre eu e você, juntos. E cada vez que as lembranças vêm na minha cabeça, eu tenho mais certeza de que o tempo e a maturidade não nos fizeram bem. Não completamente, pelo menos.
Brigar, gritar, xingar e depois pedir desculpas somente se olhando com desejo e fazendo amor a noite toda era muito mais real, muito mais excitante. Essas DR's diárias nos desgastaram. E não conseguimos mais fugir delas. Limitamo-nos a viver a partir delas. E isso está sendo nocivo. Nosso amor está se transformando. Eu quero evitar isso, você quer evitar isso.
Parei em frente à estante da sala, olhando nossas fotos, com carinha de pirralhos ainda - não que você tenha mudado muito, mas eu mudei - e me veio um sentimento nostálgico. Eu quero viver aquilo de novo. Quero viver os momentos antigos e reais de novo, mas com minhas posturas e atitudes de hoje. Senti de repente o teu abraço apertado. Aquele abraço quentinho que eu tanto sinto falta todas as noites. Você abriu a boca para me dizer algo, mas eu impedi, tocando seus lábios com meu dedo indicador, bem de leve. Não quero palavras, não quero desculpas, não quero explicações. Quero você, quero nossos momentos de novo, sem pensar no que pode acontecer amanhã.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Além do querer.

Houveram certos momentos em que eu não entendia muito bem o porquê de você sempre conseguir me manter na linha. Eu não sabia por que você aparecia repentinamente na minha casa, muitas vezes só para me dar um abraço e um beijo. Às vezes pensava que era excesso de mimos da sua parte. Mas também tinham as vezes que você não aparecia e eu sentia sua falta. Mesmo assim, estou feliz por nós termos conseguido superar tudo isso, colocar os pingos nos "i's", como a gente sempre fala. No início eu não tinha noção do peso de todas aquelas coisas que a separação nos traz. Você nunca me avisou.Você nunca deixou isso explícito e claro para mim. Você me amava e acreditava, acima de tudo, no nosso "pra sempre". Pego-me querendo te falar milhões de coisas nesse momento e obviamente haveria muito mais coisas a falar se você estivesse aqui comigo, cara a cara.
Eu nunca pensei que eu poderia sofrer assim. Quando te disse adeus eu não cria que me sentiria assim. Todo dia que passa eu desejo, com mais e mais intensidade, que eu possa conversar com você um pouco. Sinto vontade de te abraçar um pouco. Quero te ter um pouco. Eu sinto saudade mas tento não chorar. É recente e vai passar. Acredite em mim quando digo que você está melhor sem mim. Junto toda a força que tenho em mim para dar a você. Não chore, por favor. Eu te desejo todo o bem do mundo, mas não posso dá-lo para você no momento, querido.
E é sincero quando te digo que eu daria o mundo para ver seu rosto e estar perto de você. Mas eu não posso, seria egoísmo. Às vezes me parece que deixei você ir muito cedo, e isso torna ainda mais difícil manter a minha decisão de te dizer adeus.
Esforço-me para que você não perceba como eu estou. Você nem vê as lágrimas que choro sobre meu travesseiro todas as noites. Eu queria que você estivesse aqui para comemorarmos cada vitória que conquistamos. Eu queria que nós pudéssemos passar os feriados juntos. Eu lembro - e sinto falta - de quando você me colocava na cama a noite e insistia em me cobrir com o edredom. Eu era sua mulher. Eu era sua. E mesmo não falando, você era meu. Eu achava que você era tão forte, pois enfrentava todos nossos problemas com tanta serenidade. Nunca pensei ver seu rosto com ar de desespero. E foi assim que você se mostrou, enquanto eu tentava te explicar os motivos que eu tinha para pôr um fim em tudo. Mesmo sabendo que a decisão foi minha, continua sendo tão difícil ter de aceitar o fato que você foi embora, pra sempre, por minha causa. Os sonhos que sonhamos juntos continuam tão intactos para mim. É inevitável pensar que nós pertencemos um ao outro e que isso está acima das minhas e das suas vontades. O sentimento permanece vivo, por mais que eu tente ir contra isso.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Tudo e nada, ao mesmo tempo.

Certas coisas não deveriam nunca ser explicadas, simplesmente pelo fato de que explicações tornam tudo muito concreto, e sentimentos não devem ser vistos dessa forma. Bem,pelo menos eu penso assim. O amor é um misto de sensações tão extremas que seria muita prepotência de uma pessoa tentar definí-lo. Não o defino. Eu o sinto... quando sinto. Não sinto amor sempre, nem por todos, nem rapidamente. Também não sei quando começo a senti-lo. Um dia simplesmente percebo que ele está presente na minha vida. Essa presença intrometida me perturba e me acalma. Ele me desorienta e me mostra o caminho. Mas eu não sei como definí-lo em palavras.
Ele aparece quando eu não o quero. Ele surge quando eu o esnobo. E é justamente quando penso estar segura que ele me acha em meu esconderijo. Ele me arrebata. Não consigo nem ao menos encontrar palavras para argumentar os porquê's que eu não o quero no momento. Entretanto, a minha resistência vai cedendo. Mais perto e mais perto, ele se aproxima de mim de um jeito que me fez temê-lo.
O amor destrói e o amor divide. O amor faz sorrir e o amor pode me fazer chorar. O amor pode dar da mesma forma que pode tirar tudo. Eu acho isso difícil de explicar, mas esses extremos - o saber desses extremos - me acalmam. O estado de frenesi que ele me proporciona é tão bom quanto o gozo que meus amores me deram.
O oceano fica pequeno perto da intensidade que sinto esse sentimento. O mundo fica pequeno. O infinito fica pequeno. E as lágrimas que ele já me proporcionou seriam suficientes para criar um oceano em cada planeta do universo. E os sorrisos seriam suficientes para dar de presente para criança que sofre em todo o mundo. O meu amor pode me dar tudo em um piscar de olhos. Pode me tirar tudo também em um estalar de dedos. Minto, tudo não. O meu amor-próprio é só meu, e esse nunca morre.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Seu mundo no meu e vice-versa.

Batidas de um coração apressado, bochechas corando e eu aqui, esforçando-me para resistir aos teus encantos. Sonhando acordada, sentada, fumando um cigarro no café da esquina. E você me olha aquele olhar tentador. E você me sorri aquele sorriso doce. E eu? Despedaço-me, juntando forças para me recuperar desse abalo císmico que você provoca em mim quando se aproxima. Trêmula, digo um punhado de palavras sem sentido, na tentativa de não transparecer o nervosismo que você faz brotar em mim. Inútil. Você sempre nota, sempre sorri e sempre me beija da mesma forma.
Por que você tem que ser tão fofo? É impossível ignorar você. E quando penso que conseguirei, finalmente resistir, eu pego-me envolvida nos teus braços. Chega a ser engraçada a forma com que você me faz rir. Pois meus lábios não colam-se quando estou ao seu lado. Ou estou sorrindo, ou estou te beijando. E nós somos dois mundos completamente diferentes. Queremos coisas completamente diferentes. Vivemos vidas completamente diferentes. É uma pena que mesmo com tantos contras, a gente ainda consiga se dar tão bem. Seria tão mais fácil se não existisse essa conexão entre nossos mundos. Mas é sempre tudo igual. Beijos e mordidas. Abraços e amassos. Cheiros e olhares. Línguas e dentes. Boa noite e até a próxima.
Você é tão desligado, e isso me atrai tanto. Nunca sequer percebe que sempre sigo você até em casa, mesmo que eu não queira ir para casa ainda. Só faço isso para te ver por mais tempo. Você caminha com os fones no ouvido, e você dança, e você canta. Você é tão você, que isso me torna tão sua, mesmo não querendo - e não devendo - ser. Por que você torna todos os momentos ao seu lado tão maximizados? É justo eu gastar horas do meu dia, pensando em um simples passeio de mãos dadas até a loja de conveniência?
Olho você pelas cortinas abertas da minha sala, e tudo o que vejo é você na mesma rotina diária, zapeando pela tv, relaxado no sofá e apoiado com os pés sobre a mesa de centro. Penso eu que você pensa que está só, quando tudo o que eu queria era estar a sós com você. Se nossas vidas são tão chatas sem a companhia um do outro, por que insistimos em vivermos tão separados, cada um do seu lado da rua?
Dia desses estarei entediada em casa e você tocará na minha campainha, e virá ficar comigo. Nós beberemos e conversaremos sobre tudo. Daremos boa noite e até mais, milhões de vezes um pro outro e logo após arranjaremos qualquer desculpa pra ficarmos acordados, só para ficarmos mais tempo próximos. E nossas rotinas seriam você dormindo aqui e eu dormindo lá, do outro lado da rua.
Vejo você aprontando-se para dormir. Tenho que confessar que você fica tão atraente nesse pijama de listras, mesmo que pareça tão cafona. E quem sabe então o aquecedor do seu quarto possa estragar. E a noite está tão fria - para minha vantagem. Quem sabe você olhará para a minha janela e me verá sorrindo para você. Você vestirá seu casaco e calçará seus chinelos e saíra pela porta. E eu verei você atravessando a rua, coberta pela neve branca, e ouvirei a campainha do meu apartamento tocar. E, finalmente, nós ficaremos bem. Nós ficaremos bem juntinhos. Quem sabe, dali em diante, não sejam somente boa noite e até logo. Quem sabe sejam bom dia, boa tarde, bom almoço e bons sonhos?

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Irracional?

O que você faz quando sabe que alguma coisa é ruim pra você e ainda assim não consegue deixar de lado? Eu era inocente, não inocente de ser boba, mas inocente no quesito de que as pessoas poderiam machucar-me intencionalmente. Seu amor era como um doce, artificialmente suave, e eu sei que fui iludida com a embalagem.
Estive presa em sua teia, e ela é um emaranhado de coisas viciantes, que não consegui me soltar. Você me ensinou tanta coisa. Aprendi a sangrar, a chorar, a desacreditar, a mentir, a decepcionar-me comigo mesma. Eu me achava tão esperta e inteligente. Fui presa em sua cama, por livre e espontânea vontade, e devorada completamente. Incrível como o sexo consegue aflorar a irracionalidade e o lado animal de um ser humano. Eu realmente achava que com você, só com você, seria assim, tão perfeito.
Isso machuca minha alma, pois eu não consigo esquecer o seu sorriso, mesmo que ele me pareça falso. Todas essas paredes que construí a minha volta, na tentativa de me livrar de você, estão sendo cavadas e derrubadas. Creio que não preciso mais delas.
Mesmo assim, não consigo conter meu sofrimento. E eu odeio deixar transparecer que eu perdi o controle. O meu auto-controle. E os erros permanecem os mesmos, pois eu continuo voltando exatamente para as coisas das quais preciso me afastar.
Eu já deveria saber que fui usada para diversão. E mesmo sendo alimentada por medos e inseguranças, não pude ver através da fumaça do seu cigarro, que tudo não passava de uma ilusão. Agora eu estou lambendo minhas feridas, como um animal lambe seus machucados na tentativa de cicatrizá-los. Porém, o veneno penetra profundamente... Esse poder de sedução que você usou comigo, eu também possuo, mas mesmo assim, é você quem me mantém prisioneira.
Eu estou a ponto de quebrar. Eu estou viciada em seu encanto, e não conheço nenhum contra-feitiço que possa quebrá-lo. E estou procurando por um remédio, que cause-me uma superdosagem de sentimentos inversos por você. Cada passo que eu dou me conduz a mais um erro dos muitos que esse amor repulsivo já me fez cometer.
Por mais que pareça impossível, eu sei que só eu posso reparar esta situação em que estou. Falo comigo mesma, parada em frente ao espelho, e não obtenho resposta alguma. Será que ainda vive alguém dentro de mim? O que eu fiz pra merecer a dor dessa lenta queimadura, que se espalha pelo meu corpo, mais e mais.
Toda vez que eu tento aspirar o ar, eu sou sufocada por um desespero que eu mesma causei. Por que isso nunca acaba? Parece que eu nunca acordarei desse pesadelo. Fecho os olhos e envio uma prece silenciosa. Isso tem que acabar... Por dentro eu estou gritando, suplicando, implorando para que isso acabe.
Agora o que fazer? Meu coração foi ferido. E ele parece-me tão triste, mas a verdade é que cada batida me lembra de você. Estúpida. É o único adjetivo que consigo agregar a mim nesse momento. E isso me tira o sono. Isso me tira a paz.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Déjà vu.

Lá vai você outra vez, saindo pela porta, batendo-a com força, sem nem ao menos olhar para trás. Tenho a impressão de que nossa vida a dois é um constante déjà vu, pois as cenas repetem-se diariamente e nossas lágrimas, beijos e abraços também. Você diz que quer sua liberdade, mas que não sabe viver sem mim. Você diz que quer um lar, mas não quer responsabilidades. Bem, quem sou eu para te segurar?
Você diz que vê em mim uma eterna interrogação, e eu tenho que concordar com você. Nem sempre tenho certeza do que quero, do que faço e do que planejo. A minha única certeza - nesse momento - é que você deve fazer o que sente. E quando você descer as escadas, e ouvir o barulho que seu calçado faz sobre o chão, atente-se e escute cuidadosamente o som de sua solidão. E a saudade vai te sufocando, e a vontade de voltar cresce a todo instante. As batidas do seu coração o deixam maluco. Minhas lágrimas já morreram nos meus lábios, e tudo o que tenho é um rosto borrado pela maquiagem e a falta que você me faz.
Você fica atormentado, desorientado com o silêncio das lembranças do que você tinha e do que perdeu. Eu não fico nada, nada mesmo. Estou atônita. Mais uma vez, meus medos puseram-se a frente das minhas vontades. Eu sei que problemas e conflitos sempre haverão, mas eu tenho medo. Eu sei que trovões só acontecem quando está chovendo. Que os políticos só amam você quando estão em época de eleição. Sei que amores vêm e vão, e por que você nunca foi então?
Quero um banho de chuva, um banho de mar, pra lavar a alma, limpar-me por dentro e clarear minhas idéias...
Lá vem eu de novo, com minhas visões cristalinas de um futuro que insisto em tentar prever. Eu guardo minhas visões para mim mesma, e você clama para que eu as compartilhe. E quando você acha que estou me afastando de você, tudo o que penso é que deixo tudo transparecer ao contrário dos meus anseios. Estou aqui, parada em frente a você. Sou apenas eu mesma, querendo me envolver nos seus sonhos. Você tem algum sonho que gostaria de me envolver? Qualquer sonho, exceto os sonhos de solidão.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Impossível.

E quanto mais eu tento chegar à um consenso, mais perto eu chego da conclusão de que é impossível, completamente impossível, amar você. Essa sua mania repulsiva de esconder tudo o que sente, definitivamente, não casa com o meu jeito de gritar aos quatro ventos o que nutro por você. Esses impasses tornam cada vez maior a improbabilidade de eu conseguir lhe dar tudo aquilo que você necessita de mim.
Porque você sempre se esconde de mim? Esconde-me seus sorrisos, sua alegria, sua paz, seus carinhos. Por que você não age ao contrário? Esconda de mim seus ciúmes, sua raiva incontida, seu jeito intempestuoso. Não sei o que o magoou, você sempre esconde o que te incomoda, mas mesmo assim, quero resolver isto. Deixa eu sugar de você toda sua dor, sua insegurança.
Eu estou tão cansada de tentar ler seus pensamentos. Estou tão cansada de cubrí-lo de carinhos e não receber um sorriso de volta. Desculpe-me, mas é impossível amá-lo deste jeito. E se é, realmente, assim que vai ser, vamos seguir em frente, separados, pois eu não quero mais sofrer a sua dor. Desdobro-me diariamente para facilitar as coisas, para te fazer, realmente, feliz. Eu faço por prazer, por que julgo necessária nossa vida lado a lado. Então, porque você sempre tenta dificultar tanto? Diga-me como posso lhe dar todo o meu amor, se você está sempre, sempre na defensiva?
Não estamos em um circo, logo, não pense que eu sou palhaça para agüentar tuas risadas de desespero perante aos problemas que você insiste em esconder de mim, de você, de nós. Por quanto tempo tu pensas que poderei agüentar os teus altos e baixos? Então, se é realmente assim que vai ser, tenho a leve impressão de que já estou indo tarde demais.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Deixe-me ser sua água.

Sinto-me como se eu estivesse sobre o oceano e muito distante, distante mesmo, de tudo de bom - e ruim - que me rodeia. Talvez eu sinta isso por estar vivendo num mundo diferente de todos que me rodeiam. Nesse casulo que criei à minha volta, nada me atinge, nem os problemas, nem as tristezas, nem a felicidade. Viver em estado vegetativo, entende? Privando-se das lágrimas, mas também dos sorrisos. Estou somente esperando como um iceberg, flutuando sobre as águas geladas de um oceano qualquer. Esperando mudar. Esperando que alguém me resgate, possua-me e me faça perder esse medo de ser, realmente, feliz. E a cada dia que convivo sozinha nessa redoma, sinto-me mais e mais fria por dentro. Transformei-me em gelo, estou engessada num momento do qual não sei como fugir. E tudo o que gostaria nesse momento, era ser como a água, rastejando-me oceano à fora, areia à fora, mundo à fora, sem medos, sem receios, sem desculpas.
Olho-me no espelho, e tudo o que consigo enxergar são meus músculos apertados em minha face, dando-lhe ar de desespero. Enterro minha alma em um abraço desconhecido, e não consigo encontrar conforto. Tudo o que preciso nesse momento, é do fogo, para derreter o gelo que personifiquei dentro de mim. Mas o fogo diminui, e meu gelo não transforma-se em água. E meus medos não transformam-se em ousadia. E minhas lágrimas não dão lugar ao meu sorriso.
A maioria dos dias está cheio de desculpas esfarrapadas, e por mais que seja duro dizer, eu gostaria que fosse simples, tão simples quanto me afirmam que realmente é. Mas eu desisto facilmente. Desisto dos amores, das vontades, dos sonhos. Só não desisto da dor, dos medos e da angustia que me empedra cada vez mais. Você está próximo o bastante para ver isso e mesmo assim sinto que você está do outro lado do mundo para mim. E quando teu sorriso mostra-se para mim, eu sinto luz, sinto paz. Porém, o pânico toma conta do meu corpo, segurando-me com dedos, braços, mãos, impedindo-me de sair desse casulo, desse gelo que me transformei. Sentimentos parecidos com fogo insistem em se apossar de mim, mas o medo ainda me domina.
E se chegou a hora de seguir em frente, e nossos caminhos se separarem daquela colina logo ali a diante, você pode me ajudar a trilhar uma vida com você? Você pode me deixar ir ao seu lado? Você pode quebrar o gelo e transformar-me em água, para deslizar pelo seu corpo quando eu bem entender? E você poderá ainda me amar mesmo quando você não puder me ver mais?

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Só sorrisos por você.

Preferia o mistério que existia entre nós, que nos fazia sentir coisas inexplicáveis, do que a dor em conhecer-te de verdade e não poder tê-lo. Penso que, por vezes, deveríamos agir de forma mais racional, mantendo o mistério que faz pulsar mais forte dois corações desconhecidos, ao invés de agir emocionalmente, sem medir qualquer conseqüência, e desvendar todos os porquê's que antes mantinham esse sentimento tão gostoso de ser sentido. Não que eu me arrependa, não, não me arrependo, mas, o "não saber" era tão gostoso e o "saber" hoje me dói tanto. Por que você chegou dessa forma, invadiu-me com um turbilhão de sensações e partiu, deixando comigo somente a vontade de tê-lo amanhã, novamente?
Eu, realmente, não queria. Tenho medo, sim, de viver tão intensamente. Então, você simplesmente deu-se o direito de roubar meus medos, minhas vontades, minhas lágrimas, fazer-me rir o tempo todo e achou que ficaria tudo bem? Não gostei de ver-te partir, não gostei do nosso beijo de despedida, nem do seu sorriso segurando as lágrimas para não me fazer sofrer. Tive que bancar a forte, a fria, e eu não sou. Tudo o que queria naquele momento era aninhar-me no teu colo e chorar como criança. Não. Segurei as lágrimas, sorri para você o meu sorriso mais gostoso, pisquei e te vi partir.
Não te menti quando disse que não queria sofrer com a nossa distância, pois eu não quero mesmo. Não pretendo desdobrar-me novamente por algo tão incerto. Fato é que também não contava que o envolvimento seria tão intenso. E, hoje, quando decidimos não levarmos a diante a fim de não nos machucarmos, doeu-me tanto, saber que por mais que a decisão fosse a correta, não era o que o meu coração queria naquele momento.
Só o que penso é no seu beijo e seu carinho, nos passeios de mãos dadas, nas flores recém arrancadas que você me deu e no frio de -10 graus que só você teria capacidade de convencer-me a agüentar. Só o que vejo é sua foto 3x4 na minha carteira, nossas fotos juntos e o bilhete da passagem dentro da bolsa. Só o que desejo são os outros beijos que não dei - e não recebi - dos abraços quentes que me envolviam a todo momento e de fazer amor com você.
Porém tudo o que tenho é a lembrança de que a intensidade de sentimentos que marcou nosso encontro é a mesma intensidade que marca hoje a saudade que sinto por dentro.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Somente quando durmo.

Você é simplesmente um barco dos sonhos, navegando em minha mente, fazendo com que eu me perca entre os pensamentos que me levam, sempre, até você. Você nada em meus oceanos secretos, de corais azuis e vermelhos, desvendando meus desejos e alimentando meus anseios. Seu cheiro é igual ao incenso de ópio que queimo todas as noites no meu quarto, somente para sentir sua presença mais real do que ela é. Seu toque é sedoso, e é só fechar os olhos que sinto sua mão deslizando pela minha espinha, alcançando minha pele quente. Sinto seu toque movendo-se pelo meu corpo de dentro pra fora, agarrando-se em meus seios, fazendo com que eu arda de desejo. Mas é somente quando eu durmo, que você desperta-me essas sensações, afinal, não faço nem idéia de quem você é. Vejo você em meus sonhos, rondando-me em círculos, virando-me de cabeça pra baixo, mas eu não o vejo, eu apenas ouço você respirar. Em algum lugar do meu sono, você invade meus pensamentos e meu corpo, possuindo-me por inteira. Então, quando eu acordo do meu sonho, sua sombra desaparece, sua respiração torna-se somente a névoa do mar, envolvendo meus pensamentos, dando-me prazer. Trabalho durante o dia inteiro, contando os segundos para poder dormir e encontrar você novamente. E quando chega a hora de descansar, estou deitada em minha cama, esperando você invadir os meus sonhos, e só o que ouço é a minha respiração ofegante, desejando, incondicionalmente, um desconhecido.