sábado, 13 de setembro de 2008

Banco cinza do metrô.

Nunca, em toda a minha existência, eu havia andado de metrô. E eu me sentia tão entusiasmada, que já não sabia se tamanha euforia eram motivadas pelo "andar de metrô" ou por estar do lado do cara que eu mais amava no mundo. Sim, pode parecer maluco, mas desde o momento que o vi no aeroporto, a minha certeza - o que pode ser considerado praticamente milagre, devido a incerteza personificada que é o meu ser - de que ele era O CARA pra mim, só se fez maior ainda...
Agora, sentada ali, no banco do metrô, de mãos entrelaçadas com ele, meu coração continuava pulsando forte e meus olhos - brilhando - não desviavam dos dele. Ficava parada tentando achar milhões de argumentos que pudessem definir um sentimento assim... por fim, desisti. Acho que ao longo da nossa vida, perdemos muito tempo procurando porquês (não sei se está certo escrito assim) e motivos para tudo que nos acontece. Fato é que algumas coisas, simplesmente, acontecem, e não são vivenciadas por nós para serem entendidas, definidas, descritas... apenas para serem SENTIDAS.
Que maravilhosa é a sensação de sentirmos algo, mas quando junto com essa sensação percebemos que a pessoa ao lado também sente a mesma coisa - ou praticamente igual - é mais entusiasmante ainda.
Meu corpo estava queimando de desejos e vontades por aquele homem, que por incrível que pareça, eu já conhecia como a palma da minha mão - ou achava isso. Cada beijo que dávamos, fazia minhas pernas amolecerem, como se eu estivesse dando o primeiro beijo da minha vida. A presença dele ao meu lado, proporcionava-me um misto de emoções e sensações que minha mente não conseguia captar e conduzir, mas que meu corpo e corações sabiam direitinho. O modo com que eu me apertava contra o corpo dele, como se quisesse invadí-lo e morar dentro dele, pra sempre, transpareciam a vontade que eu tinha de ser mulher dele, aquela noite ainda, e todas as outras que ainda viriam. O sorriso dele e a malícia no olhar, revelavam que ele sabia, exatamente, o que o meu corpo estava pedindo... e isso o agradava muito, pois ele não conseguiu deixar de transparecer que seu corpo ardia do mesmo modo que o meu, cada vez que nossas línguas se tocavam.
Dividíamos o mesmo mp4, ouvíamos - pela primeira vez juntos - todas as músicas que já faziam parte da nossa trilha sonora, o que soa mais maluco ainda, pois nossa história já tinha uma trilha, antes mesmo de se consumar.... mas e daí, a história se consumava naquele momento, e toda vez que nossos olhares se cruzavam, eu tinha a certeza de que ela não teria fim.
Era incrível como as horas longe dele tinham custado tanto a passar, e como agora, pareciam segundos, pois cada vez que eu olhava no relógio, já haviam se passado 15 minutos, 30 minutos. Deu-me uma vontade de gritar: PÁRAAAAAA, TEMPO! PÁRA!!!!! DEIXE-ME AMAR EM PAZ. Eu sabia que a revolta com o Sr. Tempo era em vão, então passei a curtí-lo mais e mais, sem desgrudar do corpo dele nenhum minuto.
Comecei a pensar mil coisas - ok, eu já estava pensando, mas minha mente não conseguia parar, era muita informação, sensação ao mesmo tempo - até que deparei-me com um escrito na parede do metrô: Assento preferencial para gestantes, idosos ou portadores de deficiência física. Olhei os assentos, eram cinzas. Nesse momento não consigo recordar-me da cor dos outros assentos, mas aqueles à nossa frente, eram cinzas. Olhei para ele e falei:"-Amor, quando formos bem velhinhos, vamos passear de mãos dadas de metrô, sentados naqueles bancos ali à frente. Após falar, senti-me uma tola, meu Deus.... estavámos juntos há 1:30h e eu já falava no futuro... que tolice. Imaginei ele fazendo uma cara de desconcertado e me dizendo: Não vai dar mais! Então, ele me olhou, beijou-me os lábios e me abraçou tão forte, que se alguém nos olhasse naquele momento - e estava olhando, pois desde que ficamos juntos, todos os olhares desviavam-se pra nós, como se as pessoas pensassem: - Lá vai o casal mais apaixonado do mundo! - pensaria que éramos um só.
Não, nunca desejei que fôssemos um só. Desse modo, seríamos metade cada um, e eu, nossa, eu queria ser inteira, inteira dele, inteira para preenchê-lo de amor e alegria inteiramente. Éramos dois. Dois corações, dois corpos, duas pessoas e um só amor. Isso. Era exatamente isso.
Eu já não aguentava mais ficar em metrô, trem, ônibus. Pareceu-me que o quarto, o nosso quarto de hotel, era mais longe do que Porto Alegre. Não tinha pressa para que o tempo passasse, tinha pressa para que ficássemos só, LOGO, para que ninguém testemunhasse todas as vontades, desejos e tesão que corriam pelos nossos corpos.
Por um momento, pensei que eu estava pensando em voz alta, pois toda vez que minha ansiedade pelo quarto do hotel aflorava, ele segurava mais forte a minha mão, puxava-me contra ele e me dava um beijo. De repente, ele levantou e disse: "-Vem, vamos descer!". Ahhhhhhhhhhhhhh, aleluia. Hotel, hotel, hotel! Era só o que eu pensava.
Como em qualquer história de amor - não, isso não é uma história, mas não sei como definir agora - os fatos engraçados não deixam de existir. Ao chegarmos no hotel e entrarmos no quarto, não queria parecer faminta por ele - tudo bem, eu estava, mas não queria transparecer - fui tirar as coisas da mala. Eis que, ao abrir a mala, tem shampoo espalhado POR TUDO. Pensei comigo mesma: "-Ótimo, que ótimo, pagando "mico" na frente do cara que eu mais amo no mundo."
Ele somente sorriu e disse pra eu tirar tudo da mala e limpar, pra não ficar sem ter o que vestir nos próximos dias. Nesse momento, a voz da minha mãe - que agora já soava-me como uma profecia - ressoava na minha cabeça: "-Filha, não coloca o shampoo na mala, vai estourar." Ahhhhhh, como eu odiava não tê-la ouvido, mas paciência. Eu estava de quatro, literalmente, limpando a mala - isso não estava nos meus planos - e ele estava sentado na cama, despindo-se... O QUE????? Ele estava tirando a calça e colocando uma bermuda, e o que vou dizer agora pode parecer ridículo, mas eu fiquei completamente corada. Como sentir vergonha de ver a pessoa que você ama trocando de roupa? Não sei, mas senti.
Mala limpa, roupas no chão. Olho pra ele, ele está fumando, sentado na cama, olhando fixamente pra mim. Eu sorrio e abaixo a cabeça - hábito que tenho quando estou envergonhada - e ele me puxa pela mão. Nossas bocas se colam novamente, as mãos dele deslizam pelo meu corpo - ainda vestido - e eu penso:"-Esse vestido esvoaçante não era a melhor opção para este momento.". Ele deita-se na cama, puxando-me por cima dele, sem desgrudar minha boca da dele, minha mão tateia a parede atrás do interruptor. Achei. Luzes apagadas. Desejo no ar.