sábado, 20 de setembro de 2008

Tudo assim tão desigual.

Fiquei parada durante horas, sentada na cadeira em frente ao computador do quarto dele, admirando ele dormir. Todo encolhido embaixo do edredom verde quentinho, com aquela cara de bravo - que até dormindo ele tem. Incrível como aquele quarto, aquela casa, permaneciam intactos, da mesma forma que estavam desde que terminamos. As fotos nos porta-retratos, o pijama que eu tinha deixado lá, as pantufas embaixo da cama. Tudo como estava quando parti. Não que ele não limpe a casa, não é isso. Mas ele não se desfez de nada que eu deixei. Ele não mudou nada de lugar, como se os objetos tivessem sido uma maneira que ele encontrou de ter minha presença por perto. E isso me delicia, delicia-me por completo. Deixa-me com sorriso bobo no rosto.
Começo então a entender o real sentido do amor. Amor não é palavra, é atitude. Ele nunca foi de fazer-me grandes declarações, nem de recitar-me poema algum. Palavras para ele sempre foram desnecessárias. Ele odiava qualquer tipo de DR, e odiava os Eu te "amo's" que eu tanto cobrava dele. E foi assim que terminou: "Você não me ama! Você nunca fala pra mim" eu gritava, esperneava, com os olhos molhados e a pele exalando raiva. Ele me olhava de modo desorientado: "-Não falo mesmo, não gosto de falar... acho desnecessário, sempre te disse...", ele dizia pausadamente. Aquele jeito dele de nunca se irritar e abalar com nada, agredia-me e atiçava-me a irritação. "- Quero ir pra casa, agora!", e foram essas as minhas últimas palavras.
Agora, parada ali, olhando aquele apartamento, eu via e entendia todas as minhas interrogações. Passou pela minha cabeça, como se fosse um filme, tudo o que a gente tinha vivido junto. Lembrei-me da vez que liguei para ele às 2h da madrugada querendo vê-lo e ele passou na minha casa 20 minutos após isso. Lembrei-me do dia que atravessou a cidade só para me dar um beijo no intervalo do curso pré-vestibular. Atitudes, ações. Ele sempre fez um punhado de coisas para demonstrar que me amava, e eu clamava por palavras.
Namorei alguém após isso que me enchia de palavras. As melhores palavras que podiam existir. Palavras que não foram verdadeiras. Esse alguém nunca me amou, e mesmo assim eu continuava acreditando em palavras. Nunca vi atitude alguma, o "alguém" havia sido bom mesmo com palavras.
Hoje isso martela na minha cabeça. Sempre cobrei palavras dele, e nunca dei valor às atitudes que demonstravam o quanto aquele homem me amava. Injusta. Fui injusta com o único cara que me amou de verdade em toda a minha vida. Mesmo assim, ele estava ali, dormindo e esperando o meu beijo de bom dia. Isso é amor. Agora tudo tornava-se claro novamente. Amar definitivamente não era alimentar ilusões, amar é dedicar-se a quem você ama. Amar não é recitar belos versos, amar é dar um abraço e aconchegar quem se ama, sem dizer uma palavra. Amar não era querer, incondicionalmente, o "pra sempre", amar é dedicar-se, completamente, ao "agora".
Aquele quarto, sala, cozinha e banheiro, todos com a minha cara. Sobre a mesa de cabeceira, a foto dos dois deitados na rede. Na estante, o primeiro sapo de porcelana que comprei de presente pra ele - sim, ele ama sapos! Cada cômodo um pouco de mim, ou uma lembrança de nós dois. Passaram-se 3 anos e o cara que não me dizia "Eu te amo!" e não dedicava poesias, continuava apegado à mim. Amor. Amor mesmo, não paixão.
Assim como o sentimento dele permaneceu intacto, as minhas reações ao lado dele também permaneceram. E é incrível, pois eu continuo não entendo o porquê que tudo que ele faz, faz com que eu queira sorrir. Eu não posso não gostar de certas coisas em algum momento? Não compreendo o porquê que quando eu o chateio, ele somente me cala com um beijo, fazendo com que eu esqueça por que a discussão começou. Não entendo por qual motivo ele me ama sem porquês, e por qual motivo eu preciso tanto dele a todo momento.
A mágica do olhar dele me afeta de tal maneira que me deixa cheia de interrogações. O beijo enfraquece-me, tornando-me uma menina ao lado dele. Impossível que alguém me conheça de forma mais profunda, pois ele sabe a forma exata de me agradar desde o jeito com que enlaça o braço na minha cintura até o jeito que ele cuida de mim quando não estou bem. Creio que é por todos esses motivos, que ele sempre me encantará.
Estou sentada nessa cadeira, há 1 hora pelo menos, procurando ainda as respostas para tantos porquês e interrogações, então ele acorda, espreguiçando-se e reclamando: "Já está acordada? Vem pra cama...". Aquele jeito ranzinza de ser, e as palavras em tom imperativo já não me abalam. Ele é o homem que realmente sabe - e sempre soube - como me fazer bem. Então deito do lado dele, e o beijo dele novamente cala meus pensamentos, fazendo-me perceber que não existem respostas para minhas interrogações, existem atitudes.