sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Passado.

Na hora habitual, abro os olhos, espreguiçando-me - minha mãe sempre disse que isso auxilia no crescimento - olho no relógio (do celular, diga-se de passagem) e está marcando 6:20 da manhã. Levanto-me e fico sentada na cama, olhando minha imagem refletida no espelho - confesso que a essa hora da manhã, após uma noite de sono, não é a mais bela imagem que um espelho pode refletir - mas, enfim, sou eu. Cabelos escuros, levemente desgrenhados, olhos pequenos, creio que por causa do sono, e um mau-humor aparente. De repente, sinto um calor, uma espécie de euforia interior: ansiedade. Hoje, é hoje, 2 março de 2006, ahhhh... hoje vou pra São Paulo. Hoje vou conhecê-lo, tocá-lo, beijá-lo, amá-lo... ahhh, não aguento mais esperar. Corro pro banho, agora a imagem que vejo no espelho é de uma menina alegre e esperançosa, pensando bem, meus cabelos nem estão tão desgrenhados assim e meus olhos até não estão tão inchados. Abro o chuveiro, e deixo a água descer, quente e suave, pelo corpo nu. Hoje tenho que estar perfeita, cheirosa, maravilhosa, pra ele - só pra ele - e mais ninguém.
"-Filhaaaa!" - minha mãe, gritando - "-Sai logo desse banho, tu vais te atrasar pro trabalho!"
Ahhh, não, hoje eu não poderia, nem deveria trabalhar, como vou me concentrar se tenho um encontro marcado hoje à noite, se tenho uma viagem marcada. Então, nesse momento, bateu o medo, o pavor, o desespero... e se ele não for me buscar no aeroporto? E se ele não gostar de mim, do meu cabelo, do meu corpo? Desligo o chuveiro, já com lágrimas nos olhos... as lágrimas corriam pela face, como se eu fosse uma criança desamparada, com medo e insegurança correndo nas veias, fazendo a minha carne tremer.
Paro em frente ao armário, penteando os cabelos, ainda envolta pela toalha, pele perfumada. Estou linda, ele vai me amar. Escolho um vestido verde - estilo hippie - e visto-me. Verde combina com meus cabelos escuros e meus olhos - que são verdes também. Borrifo meu perfume favorito, comprado especialmente para ir vê-lo - Amor, amor - nos lugares estratégicos (pescoço, nuca, pulsos e entre os seios), pego a bolsa, a mala... estou pronta, vamos trabalhar então.
Nunca em toda a minha vida, uma tarde demorou tanto a passar... olhei no relógio - 8:15h - falta muito.
Meu coração pulsava cada vez mais rápido - exatamente como pulsa agora, enquanto lembro deste dia - e não aguentei: peguei o telefone e liguei para ele.
"-Oi, amor!" - ele disse - "Estou saindo agora de casa, vou até o hotel deixar minhas coisas e depois vou pro Aeroporto." Olhei no relógio e era 11:30h. "- Já, amor? Meu vôo é somente às 17h." disse eu. "- Sim, o aeroporto é longe, e estou muito ansioso, quero ficar lá esperando você chegar, quero fumar, preciso fumar." - disse ele. "- Ok, vemo-nos mais tarde, então. Beijos, eu te amo." - disse eu. "-Também te amo, nega. Beijos."
Agora, meu coração parecia que ia saltar pela boca, enchendo de alegria e felicidade e excitação até o ser mais moribundo do planeta.
Os minutos pareciam dias, e a horas, anos.
16:30h - "- Paiii - que também é meu chefe - preciso voar pro Aeroporto, vamos!"
Chego no Aeroporto, praticamente voando - tá, tudo bem, o Aeroporto é do lado do meu trabalho - e corro pro balcão de check-in. "- Boa tarde, moça! Quero realizar o check-in para o vôo de São Paulo, às 17h."
Ok, por favor, se isso for um sonho, não me acordem! Estou sentada na minha poltrona 13F, rumo a São Paulo, pra encontrar o meu amor.
17:15h - Parece que estou sentada nessa poltrona há mil anos, será que não dá pra voar mais rápido, não? Nesse momento já havia lido - tentado, sem sucesso - 3 livros... nada me parecia interessante o suficiente para prender-me a atenção. Encosto a cabeça na janela e vou comendo com toda ânsia do mundo, os amendoins que a aeromoça havia me oferecido.
"- Atenção, Senhores Passageiros, dentro de alguns instantes estaremos iniciando os procedimentos de pouso. Favor retornarem seus assentos para a posição vertical e afivelarem seus cintos de segurança. Obrigado."
Ahhhhhhhhhhhhhhh, meu Deus, vou morrer. Meu estômago parecia embrulhado num pacote - pra viagem- e meu coração já pulsava na minha mão. Peguei um espelhinho na minha bolsa - só pra checar a maquiagem e retocar o batom - não, pra que retocar batom, eu vou ficar sem ele, em breve mesmo - guardo o espelho, pego um chiclé Clorets, e começo a mascar - o hálito tem que estar divino.
Avião pousado. Pronto, estou em São Paulo. Desço da aeronave e caminho por aqueles imensos corredores - minhas pernas tremem, meu corpo treme, mas o sorriso parece grudado com cola Bonder no meu rosto.
Como em toda grande metrópole, fila. Não acredito, fila pra ir pro setor das bagagens???? Leio numa placa mais a frente: Favor, apresentarem seus passaportes. O que????? Eu nem tenho passaporte. "-Hey, senhor, eu não tenho passaporte..." - dirigindo-me ao policial parado mais a frente. "-Tudo bem, moça, o passaporte só é exigido dos passageiros dôs vôos internacionais." UFAAA! Passando a fila, vamos lá: cadê minha mala? O legal do Aeroporto de Guarulhos é que SÓ TEM mais ou menos umas 20 esteiras de bagagem... aqui em Porto Alegre, só tem 4 esteiras... hahaha. Tudo bem!
Mala na mão, já consigo avistar o portão de desembarque... nem sinto mais minhas pernas, meu corpo, meu coração já saiu voando por aí.
Pronto, estou no saguão do aeroporto. Meus olhos procurando algum rosto conhecido, sentia-me tão desesperada que mais parecia uma "menina do interior chegando na cidade grande". De repente, percebo que não são meus olhos que vão reconhecê-lo, é meu coração, que já pulsa por ele há 2 meses, praticamente. Olho para a direita e lá está ele, parado com uma calça social bege, uma camiseta polo listrada com amarelo e azul claro, segurando uma sacola na mão. Eu vôo até a direção dele - nunca caminhei tão rápido de salto alto, meu vestido esvoaçava no ar - largo a mala ao meu lado, sorrio e com a boca próxima da dele digo: Cheguei, meu amor. Nossas bocas se colam, o calor toma conta daqueles dois corpos, tão desconhecidos, mas ao mesmo tempo, conhecidos, como que de outra vida. Amor. E é só isso que define-se nesse momento.

Antologia

Para te amar necessito uma razão, e é difícil acreditar que não exista nenhuma outra além desse amor. Sobra tanto espaço dentro deste músculo que pulsa dentro de mim, e apesar do que dizem, que os anos são sábios, eu continuo sentindo toda essa dor.
Porque todo tempo que passei junto a ti, deixei tecido seu fio dentro de mim...
E aprendi a tirar do tempo os segundos, tu me ensinaste a ver o céu ainda mais profundo. Junto a você acredito que aumentei mais de três quilos, com teus tantos doces beijos repartidos. Desenvolveste meu sentido de olfato e foi por ti que aprendi a gostar de gatos. Despregaste do cimento meus sapatos, para escaparmos nós dois voando alto e tocando o céu e o infinito desse amor.
Você me ensinou, exatamente, tudo que eu sei, mas esqueceste uma instrução final: não aprendi a viver sem teu amor.
E descobri o que significa uma rosa, tu me ensinaste a dizer mentiras piedosas para poder te ver nas horas não adequadas. Tu me ensinaste a substituir palavras por olhares, e até encontrar significado no silêncio, no nosso silêncio. E foi por ti que escrevi mais de cem canções e até relevei seus erros e inconstâncias. E conheci mais de mil formas de beijar, e foi por ti que descobri o que é amar, pois é te amar.